O Brasil está em recessão há mais de duas décadas. Este fato é facilmente comprovado pelos indicadores mundiais onde verificamos que de oitava economia do mundo o país passou a ser a décima quarta. Além disso, vimos recentemente estampado na capa da revista exame a seguinte chamada: “O mundo cresce e o Brasil fica para trás”.
Infelizmente, tudo isto está ocorrendo por uma razão muito simples, os indicadores econômicos do Brasil estão longe da meta ideal. Como podemos ver no quadro abaixo, o Brasil é o país com maior carga tributária, taxa de juros e encargos trabalhistas, em comparação com países da América Latina e China, o que nos faz perceber que temos um índice de crescimento medíocre e consequentemente a um alto índice de desemprego.
DESCRIÇÀO | BRASIL | CHILE | MÉXICO | CHINA | META |
Carga Tributária | 36% | 24% | 19% | 10% | 20% |
Taxa de Juros | 19% | 3,96% | 9% | 4,38% | 10% |
Encargos trabalhistas | 101% | 9,5% | 35% | nd | 50% |
Crescimento PIB | 3,5% | 6,5% | 3,1% | 9,5% | 7% |
Desemprego Nacional | 9,5% | 3,1% | 4,5% | 0 % | 5% |
E porque estamos falando sobre indicadores econômicos? Bem, a principal causa da inadimplência educacional é social, é o desemprego. A maioria dos devedores, ou seja, 75% dos inadimplentes de escolas, estão desempregados. E, o desemprego só vai diminuir se o país voltar a crescer acima de 7% a.a., todavia, isto só vai ocorrer se caírem a carga tributária, a taxa de juros e sobretudo, os encargos trabalhistas….
O empresário brasileiro e estrangeiro só vão deixar de investir no mercado financeiro, passando a investir mais na produção quando esta for mais rentável do que os fundos DI, por exemplo, os quais, atualmente, podem gerar mais de 20% ao ano de lucro líquido. O empresário que investiu na produção, em contra partida, ganha de 2% a 3% de lucro líquido por ano (ex: hipermercados).
Apesar deste cenário econômico desanimador, há também uma certa falta de experiência e de planejamento das escolas no que tange a cobrança de inadimplentes. A principal razão é o fato de que as escolas nunca tiveram que se preocupar com a inadimplência, a qual mostrou a sua cara somente a partir de 1994, quando houve a estabilização da economia e principalmente da moeda Brasileira, com a instituição do Real.
Cremos que somente a partir do ano 2000, as escolas passaram a ver que a falta de pagamento por parte de seus alunos estava prejudicando o crescimento da escola e sua manutenção. Com base nesta realidade as escolas passaram por uma fase inicial, onde constituíram departamentos de cobrança, chegando até a ter um call center somente pra cobrar os alunos. Mas, esta estratégia não deu muito certo pois os alunos deixaram de pagar também os acordos realizados com a escola, aumentando assim o valor de suas dívidas. Com a rematrícula recusada, estes alunos migraram para outras escolas, deixando o débito pra trás, é o que chamamos de “devedor imigrante”.
Depois disso, algumas escolas passaram a se organizar ainda mais e contrataram empresas especializadas em cobrança educacional e escritórios de advocacia, os quais vem auxiliando bastante as escolas na redução da inadimplência e da evasão.
Contudo, existem alguns requisitos que devem se preenchidos para que realmente este trabalho dê os resultados esperados. Desta forma, entendemos que a escolas necessitam determinar uma Política de Cobrança. Esta Política deve ter quatro fases bem distintas, quais sejam: Matrícula, Cobrança Interna, Cobrança Externa e Cobrança Judicial
Abaixo, indicamos algumas medidas que as escolas podem tomar visando a redução da inadimplência, mas elas devem ser tomadas em consonância com a realidade local e principalmente de acordo com o perfil sócio econômico dos clientes das escolas.
AÇÕES PREVENTIVAS
- elaborar uma política de cobrança com base na cultura da escola;
- ter um contrato de prestação de serviços feito com base na lei;
- o contrato deve conter uma cláusula de inadimplência clara;
- ter uma ficha cadastral completa na matrícula;
- consultar o SPC de novos alunos;
- pedir referências pessoais , comerciais e bancárias;
- verificar se o aluno mora em casa própria ou alugada;
- verificar se o aluno tem carro e cartão de crédito;
- realizar a cobrança interna por apenas 30 dias por carta;
- enviar o débito pra empresa especializada até a rematrícula;
- realizar a cobrança judicial dos concluintes, desistentes e transferidos.
Estatísticamente, verificamos que tudo que pode ser medido pode ser melhorado. Se a escola já tem dados históricos da sua inadimplência, basta que ela coloque em prática estas ações a fim de poder identificar quais trazem melhores resultados. Vale lembrar que faz parte do risco do negócio ter algum valor irrecuperável à ordem de 3% a.a, pois sempre existirão pessoas que perderam o responsável financeiro, ou que faliram, ou que tiveram um grave problema de saúde, etc. Como também faz parte do negócio conviver com o país em recessão.
Assim, concluímos que a principal tendência é de que o país permanecerá em recessão por pelo menos 3 a 5 anos, e que acima de tudo precisamos buscar soluções legais e criativas visando a redução da inadimplência. Neste sentido, verificamos que as ações acima elencadas podem ajudar muito o gestor educacional, assim como outras medidas dentre elas ações de marketing de relacionamento, as quais podem ser também uma ferramenta eficaz no combate a inadimplência, pois cliente satisfeito e fiel é mais pontual do que cliente insatisfeito e infiél. O fato é que o gestor educacional tem que se profissionalizar o máximo possível, aplicando ações estratégicas concatenadas com os modelos de gestão modernos a fim de identificar aqueles que mais se adaptam a sua realidade local e cultural.